Desde o sucesso das tiras diárias dos jornais com diversos tipos de personagens e do estouro de vendas do mercado de comics, que deu origem as grandes editoras nos Estados Unidos, os criadores desses personagens, seguindo um conceito bairrista, patriótico ou por necessidade mercadológica, fizeram com que todos fossem nascidos na terra do Tio Sam. Isso perdurou durante quase quarenta anos. Com raríssimas exceções, como no caso dos Falcões Negros (já citados em artigo anterior), Tarzan, (que é inglês), e outros menos famosos, a maioria deles sempre tinha o “privilégio” de nascer em solo norte-americano. Esse conceito começou a mudar na metade dos anos 60, quando Stan Lee sentindo que uma nova geração estava surgindo e com uma mentalidade mais libertária e menos sectária, passou a humanizar seus heróis, mostrando suas fraquezas, medos, paixões e necessidades. Com o sucesso das suas criações, ele fez seguidores e todas as editoras passaram a fazer o mesmo. Vimos o Wolverine ser canadense, o Noturno alemão, Tempestade (Ororo), africana, Colossus russo, isso sem deixar a predominância dos heróis serem norte-americana. Esse pan-nacionalismo, serviu até para aproximar politicamente, nações antagônicas como a extinta União Soviética e Estados Unidos, mas serviu também para criar personagens de países do chamado terceiro mundo, tendo às vezes origens humilhantes em relação aos nascidos no hemisfério norte. O Brasil, como grande consumidor das HQs, teria que chamar a atenção dos editores e distribuidores americanos, pois um mercado com mais de cem milhões de pessoas, teria que ser acariciado com alguns heróis ou vilões. Não vamos falar aqui dos vilões brasileiros, pois personagens de gibis nascidos na terra da Turma da Mônica e do Pererê tem que ter um artigo próprio. A seguir, apenas alguns heróis que se destacaram nos universos Marvel e DC.
MANCHA SOLAR- Sunspot - Roberto Costa – Editora Marvel Comics – Talvez esse tenha sido o herói brasileiro de maior sucesso. Criado nos anos 80 por Chris Claremont e Bob Mcleod para compor os grupos Novos Mutantes, passou pelo X-Force. Como bom brasileiro, não poderia deixar de ter sua história bagunçada pelos vários roteiristas que cuidaram do personagem. Em sua criação, tinha o poder de absorver e converter energia solar em força e resistência, agora, depois de várias mudanças até em sua personalidade, é capaz de voar e ter seu corpo inflamado em chamas negras e quanto mais energia solar recebe mais fica poderoso (parece um dejà vu com um herói de certo quarteto) e é praticamente invulnerável. Nunca foi explicado porque as chamas são negras. Será que foi para se diferenciar do outro mais famoso ou por ser do terceiro mundo? Atualmente faz parte dos Novos Vingadores.
FOGO – Fire - Criada na década de 70 por E. Nelson Bridwell e Ramona Fradon, para DC Comics, como Flama Verde, teve seu nove mudado logo depois para Fúria Verde (Green Fury). Nascida dentro de uma aldeia indígena em plena selva amazônica brasileira, enquanto seus pais passavam férias lá, Beatriz Bonina da Costa é uma das mais belas super-heroínas do universo DC. No entanto, já bagunçaram sua vida várias vezes. Já trabalhou como modelo, apresentadora de TV e até stripper (será que foi na Boca doLixo?) até ser convocada para ser espiã do antigo SNI brasileiro (hoje ABIN) onde numa missão adquiriu poderes. Tem a capacidade de inflamar seu corpo e com isso poder voar, ficar intangível, superforça, e lançar bolas de fogo (piroplasma). É excelente lutadora de artes marciais e foi treinada nada mais nada menos do que por Batman. Além do português, fala vários idiomas. Um fato que chama a atenção dos pesquisadores das HQs é que ao se inflamar para se transformar na heroína, assim como o Hulk, tem as roupas “misteriosamente” desaparecidas e fica só de bikine. Esse, mesmo protegendo partes quentes da sua anatomia, não pega fogo. Já fez parte dos grupos Guardiões Globais, Superamigos, e Liga da Justiça da América. Mantém sua identidade secreta trabalhando como modelo e atriz.
MAGMA – Criada por Chris Claremont e Bob Mcleod em 1983 basicamente é a mesma coisa que FOGO da DC. Nascida na Floresta Amazônia numa cidade perdida chamada Nova Roma, foi achada pelos X-Man que descobriram seus poderes mutantes e a levaram para a escola do professor Charles Xavier. Fez parte dos grupos Novos Mutantes, X-Treme, Corporação X e Hellions.
MIRAGEM – DC Comics -Personagem criada para compor a Tropa Titã nos anos 80, é brasileira e veio do futuro. Foi estuprada pelo seu namorado Asa da Morte e teve uma filha ao chegar ao presente. Seu nome é Miriam Delgado e tem o poder de criar ilusões (uma espécie de Mandrake de saia). Atualmente esta se dedica apenas a criar a filha Julliene.
XEXEU - Marvel- Personagem criado por Jean-David Morvan e Phillipe Buchet, especialmente para uma história do Wolverine no Brasil. Dessa vez o mutante resolveu turistar no Brasil e escolheu Fortaleza no Ceará, para se deleitar das praias. Mas foi assaltado por gangs e nelas estava o XEXEU, que já tinha chamado telepaticamente a atenção do Professor X. Esse personagem faz parte da divisão europeia da Marvel e os roteiristas fizeram uma bela homenagem ao Brasil, suas tradições e palavras, tanto que o nome da história é SAUDADE. Infelizmente, Xexeu cujo nome é André Mexer, que pode alterar o equilíbrio das pessoas, terminou louco e foi levado por Wolverine para o Instituto Xavier. Hoje ele é zelador da mansão.
NATA - Marvel. Mutante dotada de superpoderes como força, velocidade e resistência. Não se sabe onde nasceu, mas que bateu ponto trabalhando como segurança em boates do Rio de Janeiro. Personagem sem grande expressão no universo Marvel, mas que colocamos aqui pelo fato de ser a primeira heroína brasileira lésbica. Seus poderes lembram os de Jéssica Jones.
LORD FUNNY – Criado por Grant Morrison e Steve Yeowell, para o selo VERTIGO, divisão adulta da DC Comics, apareceu pela primeira vez em 1994. Seu nome é Hilde Morales sendo descendente de mexicanos, mas, carioca de nascimento. É o primeiro herói transexual brasileiro de âmbito internacional. Nasceu menino, mas foi criado por sua avó como uma menina para perpetuar na família a linhagem de bruxas. Já adulto e doutrinado pela avó, aceita a deusa da obscenidade como guia a cai na prostituição. Um dia é brutalmente estuprado e quase comete suicídio, mas encontra um grupo de desajustados que lhe mostra como desenvolver poderes do xamanismo. Lord Fanny faz parte do grupo OS INVISÍVEIS, e teve seu apogeu até 2001. Os seus criadores entraram numa batalha judicial contra os produtores do filme Matrix, sob a alegação de cópia dos personagens.
Djalma Vasconcelos
