Os anos 50 marcaram o auge da histeria anti-quadrinhos nos Estados Unidos. Foi nesse período que entrou em vigor o Código dos Quadrinhos (Comics Code Authority), que regulamentou as publicações de HQs por lá, funcionando como uma censura durante praticamente três décadas. O impacto dessa mudança resultou no fim da carreiras de vários roteiristas e desenhistas, além do encerramento das atividades de importantes editoras.
Já havia um movimento contrário aos quadrinhos na sociedade americana dos anos 40, mas foi apenas em 1954 que este ganhou a força necessária para mudar toda uma indústria. O momento chave foi o lançamento de Seduction of the Innocent (Sedução do Inocente), livro do psiquiatra Frederic Wertham que responsabilizava os quadrinhos pelos problemas de delinquência juvenil em alta na época. A obra foi fruto de uma pesquisa de sete anos em uma clínica que Wertham havia montado para tratar jovens. O pesquisador percebeu que grande parte dos pacientes eram leitores de quadrinhos e concluiu que este provavelmente era a causa em comum de todos os problemas de uma geração.
Devido ao crescimento de denúncias contra os quadrinhos, o Senado dos Estados Unidos passou a fazer audiências públicas que eram conduzidas pela Subcomissão de Delinquência Juvenil. Com receio de sofrer censura por parte do governo, grandes editoras de HQs, entre elas Marvel e DC, resolveram criar a Associação Americana de Revistas em Quadrinhos (Comics Magazine Association of America – CMAA) e fizeram uma auto-regulação por meio do Código dos Quadrinhos (Comics Code Authority). O objetivo do selo era revisar as obras, classicar de acordo com faixa-etárias e diversas vezes censurar o conteúdo das histórias.
Os critérios que editoras e quadrinistas precisavam atender para estar de acordo com o código eram absurdos. O objetivo era eliminar completamente qualquer conteúdo sexual e violento, tendo regras como a proibição das palavras "horror", "estranho" e "terror" das capas de revistas. Monstros ou quaisquer figuras sobrenaturais eram banidas.
Sobre a sexualidade nas tramas, as regras eram: “Relações sexuais ilícitas não devem ser insinuadas ou retratadas. Cenas de amor violentas e anormalidades sexuais são inaceitáveis. O tratamento das histórias de romance amoroso deve enfatizar o valor do lar e a santidade do casamento. A perversão sexual ou qualquer inferência à mesma é estritamente proibida". As condições impostas pelo código resultava, por exemplo, na não existência de personagens LGBT em quadrinhos populares.
As HQs não poderiam conter histórias em que o bem vence o mal, policiais não poderiam ser retratados como corruptos, juízes não poderiam ser desonestos e mais regras malucas foram impostas na época. Quadrinistas não poderiam retratar figuras de autoridade de maneira negativa.
EC Comics
Uma das editoras de maior sucesso antes do surgimento do código era a EC Comics, comandada por William Gaines, que publicava principalmente terror, suspense, ficção científica e policial. Autores como Wallace Wood, Frank Fazetta e Bernie Krigstein tiveram destaque na editora.
Existe até hoje uma desconfiança de que várias regras do código foram criadas pelos outros editores com o objetivo de afetar justamente as publicações da EC. Revistas como Crypt of Terror, Vault of Evil e Haunt of Fear desapareceram, a editora foi vendida para a Warner e continuou publicando apenas Mad.
É válido ressaltar que as publicações não eram probidas de circular. Porém, sem o selo do Código dos Quadrinhos em suas revistas, era difícil conseguir vender diante da tamanha repercussão e campanha contra HQs existente na época.
O "fim" do código
Em 1971, o governo norte-americano, através do Departamento de Saúde, encomendou uma história para Stan Lee em que fosse abordado o abuso de drogas. John Goldwater, responsável pelo código na época, recusou-se aprovar a história. Porém, Stan Lee e a Marvel seguiram em frente com a publicação, que saiu sem o selo em maio do mesmo ano. A revista foi um sucesso de vendas e o código perdeu sua importância nesse momento. O Código dos Quadrinhos existiu até 2011, mas praticamente sem relevância em seus últimos anos.