William Erwin Eisner, o criador do Spirit, nasceu em 6 de março de 1917, em uma família de origem judaica. Durante sua infância, as maiores diversões do jovem Eisner eram as tiras de quadrinhos dos jornais, os filmes e as revistas pulps, que traziam incríveis heróis em perigosas aventuras. Desde cedo, ele mostrou talento para o desenho e quando saiu do colégio, pensou em como usá-lo para ganhar dinheiro. Em 1936, o amigo Bob Kane (futuro criador do Batman) sugeriu a Eisner que oferecesse seus trabalhos à revista WoW, What a Magazine! que procurava material inédito para lançar. Eisner contatou os editores e acabou fazendo três histórias para a revista: Captain Scott Dalton, sobre um caçador de tesouros; The Flame, sobre um pirata; e Harry Karry, um agente secreto. A revista não durou muito, mas serviu para que Eisner fizesse amizade com seu editor, Jerry Iger, e a dupla resolver formar um estúdio para criar conteúdo de quadrinhos para várias editoras. Ao contratar outros artistas e prover material para a Quality Comic, Fox Comics, Fiction House e outras, o jovem Eisner, de origem modestíssima, logo se tornou um homem rico.
No final de 1939, o editor Everett Arnold procurou Eisner com uma proposta diferente. À época, vários jornais começaram a notar o sucesso do mercado de quadrinhos e estavam interessados em ter um caderno dominical de histórias inéditas. A ideia de Arnold era que Eisner produzisse esse caderno para que Arnold pudesse licenciá-lo para jornais ao redor do país. Eisner aceitou a proposta, desde que pudesse manter os direitos autorais sobre o material que criasse. Cansado de criar histórias de super-heróis genéricas, Eisner vendeu a Iger sua parte no estúdio que dividiam e se dedicou a produzir o material para os suplementos dominicais. Dessa maneira, em 2 de junho de 1940, surgiu o Spirit, um justiceiro mascarado, corajoso e bem-humorado. O personagem era escrito e desenhado por Eisner e publicado todo domingo em aventuras de sete ou oito páginas, ao lado de outras séries produzidas por outras equipes e apenas supervisionadas por Eisner, como Mr. Mystic e Lady Luck. Mas foi o Spirit, com seu tom diferente e histórias mais humanas e até líricas, que traria fama e fortuna para Eisner.
Por volta do início de 1942, Eisner foi convocado pelo exército e teve que parar a produção do Spirit enquanto trabalhava em uma revista das forças armadas. Para que a série não parasse, ela continuou a ser produzida por seus assistentes. Ao final de 1944, Eisner foi liberado do serviço militar e voltou ao trabalho no Spirit. Ele também tentou emplacar outras séries em quadrinhos, como John Law, Kewpies e Baseball, mas nenhuma obteve boa aceitação do púbico. The Spirit foi produzido até 1952 e, após o final da série, o autor criou uma empresa, a American Visuals Corporation, para a criação de quadrinhos instituicionais para empresas e para o governo.
No final da década de 1970, Eisner passou a se interessar pela possibilidade de usar os quadrinhos para contar histórias longas, em formato de livro, e lançou, em 1978, Um Contrato com Deus e Outras Histórias, que trazia quatro histórias interligadas e eram baseadas em lembranças da infância do autor. É creditado a Eisner ter dado a esse tipo de publicação o nome de “Graphic Novel”. Nos anos seguintes, Eisner se dedicou ao formato e lançou obras elogiadas como O Edifício, O Coração da Tempestade, A Força da Vida, O Sonhador, Avenida Dropsie – A Vizinhança, O Nome do Jogo e Um Sinal do Espaço. Em 1985, Eisner lançou o livro teórico Quadrinhos e Arte Sequencial, que se tornou uma das obras essenciais do mercado. Entre os vários prêmios e honras que recebeu durante a vida, talvez a maior tenha sido a de ter seu nome dado ao maior prêmio do mercado de quadrinhos norte-americanos.
Will Eisner faleceu em 03 de janeiro de 2005, mas será eternamente lembrado na história dos quadrinhos. (Maurício Muniz)