Um dos mais importantes autores dos quadrinhos modernos, Neil Gaiman nasceu na pequena cidade de Portchester, na Inglaterra, em 10 de novembro de 1960. Quando criança, tornou-se fã dos quadrinhos norte-americanos, principalmente dos títulos da DC Comics, que chegavam de maneira irregular às revistarias britânicas. O rapaz se tornou jornalista e escreveu sobre música e artes variadas, inclusive histórias em quadrinhos, mesmo se perdeu o interesse por elas após adulto. Contudo, após descobrir o trabalho de Alan Moore na revista Monstro do Pântano, voltou a se interessar por esse mídia e até escreveu algumas poucas histórias para a revista 2000 AD, uma famosa antologia de ficção científica, no meio da década de 1980.
Gaiman tornou-se amigo de Moore e este recomendou Gaiman para ocupar seu lugar quando deixou de escrever os roteiros da série Miracleman, para a Eclipse Comics. Gaiman assumiu a revista, mas logo a Eclipse faliu e a série não foi completada. Nesse período, Gaiman escreveu três álbuns em quadrinhos que foram ilustrados por seu amigo, Dave McKean. Os álbuns eram: Violent Cases (recordações infantis em uma história com subtrama policial); Signal to Noise (sobre um cineasta com câncer que prepara um filme sobre uma aldeia que acredita que o mundo está prestes a acabar) e Mr. Punch (sobre os personagens de uma famosa trama apresentada com fantoches na Inglaterra).
Esses trabalhos chamaram a atenção de Karen Berger, editora da DC Comics, que convidou Gaiman a propor uma série para a empresa norte-americana que o roteirists inglês sempre admirou. Gaiman mostrou interesse em reinventar o personagem Sandman, um justiceiro mascarado da década de 1940 e em apresentar uma nova versão da heroína Orquídea Negra. Esta última se transformou numa belíssima minissérie em três partes, pintada por McKean e lançada em 1998. A série fez sucesso com a crítica, mas foi Sandman que transformou Gaiman num astro.
Lançada em janeiro de 1989, a primeira edição de Sandman mostrava como Morpheus, monarca do reino dos sonhos, ficou aprisionado por décadas na Terra, o que deixou seus domínios em estado caótico. Gaiman criou uma mitologia própria e complexa para a série, usando filosofia, metafísica, história e folclore. Morpheus era um de sete irmãos – os Perpétuos - que representavam os conceitos de Sonho, Morte, Destruição, Desejo, Destino, Delírio e Desespero. A série durou 75 edições, até 1995, e ganhou os prêmios mais importantes do mercado de quadrinhos ao redor do mundo.
Os trabalhos mais importantes de Gaiman foram na DC, em títulos ligados a Sandman, como a minissérie Os Livros da Magia, sobre um garoto destinado a tornar-se o maior mago da Terra; duas minisséries da Morte, irmão de Morpheus; o especial Teatro da Meia-Noite, que trazia um encontro entre o Sandman da década de 1940 e sua nova versão; Caçadores de Sonhos, sobre a presença de Morpheus em uma antiga lenda japonesa, e Noites sem Fim, álbum com sete histórias, cada uma dedicada a um dos perpétuos. Para a Marvel, o roteirista produziu as minisséries Os Eternos, que atualiza conceitos e personagens criados por Jack Kirby; e Marvel 1602, que apresenta uma versão do universo Marvel no século 17.
Nos últimos anos, Neil Gaiman tornou-se mais conhecido como romancista, em livros de sucesso como Deuses Americanos, Os Filhos de Anansi, O Livro do Cemitério e O Oceano no Fim do Caminho. No momento, escreve para a DC uma última minissérie sobre o Senhor dos Sonhos, Sandman Overture, enquanto prepara-se para continuar, na Marvel, as aventuras de Miracleman, agora que a editora comprou os direitos sobre a obra – que foi rebatizada de Marvelman, nome original do herói criado nos anos 1950. (Maurício Muniz)