Nas histórias em quadrinhos e filmes de Hollywood, os índios norte-americanos são retratados na maioria das vezes como vilões. Os colecionadores de gibis sabem que pouquíssimas vezes apareceram aventura com um índio sendo o mocinho. Nesse artigo vamos comentar sobre quatro peles-vermelhas que estão nos comics, sendo dois de ficção e dois que fazem parte da história da conquista do velho oeste no século XIX.
FLECHA LIGEIRA (Straight Arrow) - Criado em 1948, para um programa de rádio, com o sucesso rápido foi para as tiras diárias de jornais norte-americanos. Teve suas histórias roteirizadas por Gardner Fox e desenhos de Fred Meagher para a Magazine Enterprises, que publicou suas histórias de 1950 a 1956. A aceitação desse personagem no começo foi tanta que a editora criou revista própria para o mesmo. A revista conta a história do órfão que foi criado pelos Comanches e para combater os inimigos da tribo, principalmente o homem branco, adota a identidade secreta do rancheiro Steve Adams que vestido e pintado para guerra como o índio Flecha Ligeira, montado em seu cavalo Fury, vence todas as batalhas. No Brasil ele também teve revista própria pela Rio Gráfica Editora (Globo) e sua legião de fãs nos anos 50 era muito grande. Quando a publicação desse herói foi desativada nos Estados Unidos, suas histórias ainda continuaram sendo publicadas aqui, por artistas como Evaldo Oliveira e Walmir Amaral. Nos anos 80 a Editora Vecchi, publicou histórias do personagem, mas sem a receptividade dos anos 50. Um exemplar da revista Straight Arrow do começo dos anos 50 nos Estados Unidos e Canadá tem um valor muito alto.
ÁGUIA RUBRA (RED HAWK) - Nos Estados Unidos muitos críticos dos comics acham que esse personagem foi o melhor herói índio que existiu. Melhor até que Flecha Ligeira. Criado por Gardner Fox ( roteiro) e Bob Powell (desenhos) em 1950 para a Magazine Enterprises, esse autentico índio pele-vermelha da tribo dos Cheyennes tornou-se queridinho dos norte-americanos mais pela sua luta e combates contra índios de outras tribos (Blackfoot, Cherokee, Creek e Comanches) do que contra o homem branco. Como armas usava o tomahawk, a lança e o arco e flecha. As histórias desse personagem se destacam pela violência e crueldade com que tanto ele como seus inimigos tratavam os adversários. No Brasil não foi muito popular e suas histórias foram contadas na revista Flecha Ligeira, da Rio Gráfica Editora.
TOURO SENTADO (SITTING BULL) - Esse chefe da tribo dos Sioux (Oglalas), sempre é citado nas histórias em quadrinhos e filmes de Hollywood que conta suas lutas contra a invasão das terras do norte dos Estados Unidos pelos brancos, com o apoio do governo federal. Nascido em 1831 em algum lugar de Dakota do Sul e assassinado em 1890, na Reserva Standing Rock esse pele-vermelha ficou famoso por várias passagens da sua vida. Tendo se tornado líder da nação Sioux, conseguiu o feito de reunir vários tipos de diferentes tribos, numa só causa: lutar contra o exercito dos Estados Unidos. No início procurou fazer tratados com o “homem branco”, mas que sempre era rompido por esse último. Sua carta ao Presidente norte-americano Franklin Pierce em resposta a proposta de compra das terras Sioux é um clássico da história da formação da nação americana. Conseguiu convencer tribos rivais a unir forças para lutar contra as tropas federais, com o argumento que um messias divino, teria informado a um feiticeiro da tribo, que o dia da vitória estava próximo e que os homens brancos iriam ser expulsos e que as suas terras e pastagens voltariam a ter caça abundante. Vale salientar que na metade do século XIX, as manadas de búfalos foram quase extintas, levando a maioria das tribos aceitarem a rendição e irem morar em reservas sob condições de vida degradante. Com o argumento de que foi inspirado por uma divindade, conseguiu reunir mais de 10.000 pessoas das tribos Sioux e Cheyennes, que segundo o historiador britânico, John MacDonald formaram a maior força de guerreiros do continente e exercendo sua forte liderança, passou para a história por ter sido o comandante que impôs a maior derrota da história militar dos Estados Unidos. Em 25 de junho de 1876, perto do rio Little Bighorn, uma coluna da Sétima Cavalaria com quase 300 homens foi dizimada pelos guerreiros sob o comando de Touro Sentado e seu braço direito. Nesse massacre foi morto do tenente-coronel George Armstrong Custer, que tinha pretensões em concorrer a presidência dos Estados Unidos. Depois dessa vitória e para escapar da perseguição do exercito norte-americano, ele conduziu sua tribo para o Canadá, mas ficou por pouco tempo, pois a rainha Vitória, da Inglaterra, negou a cidadania para ele sob a alegação de ser um selvagem. Dois anos após o massacre, ele voltou e concordou e ir para a reserva indígena. De lá seu amigo Buffalo Bill o levou para se apresentar no seu circo “Buffalo Bill’s Wild West” onde percorreu a costa leste e a Europa. Na volta foi condenado por insubordinação e levado junto com seu filho Pé de Corvo, para a reserva de Standing Rock, onde em 15 de dezembro de 1890 é assassinado junto com seu filho, por guerreiros da sua própria tribo, sob ordens de militares.
CAVALO LOUCO – (Crazy Horse) - Esse nome da história do oeste norte-americano, também hoje, faz parte dos heróis índios. Nascido em 1844 e criado sem até a idade adulta sem contato com o homem branco, esse personagem pode ser chamado de herói sem nenhum favor. Varias das suas histórias em gibis, foram contadas nas revistas Reis do Faroeste e O Herói (EBAL) e Buffalo Bill (Rio Gráfica Editora). Seus maiores feitos como índio Sioux, foi nas guerras contra o exercito americano ao lado do chefe Nuvem Vermelha e posteriormente ao lado de Touro Sentado, como seu braço direito e que comandou 1500 guerreiros contra o sétimo regimento de cavalaria dos Estados Unidos, que foi massacrado em 25 de junho de 1876. Em 1878 aos 33 anos, foi capturado e preso, sendo levado ao Forte Robinson em Nebraska. Seu senso de liberdade se opôs a prisão e ele começou a lutar para se libertar dos grilões, quando um soldado o feriu com baioneta. Ele morreu no mesmo dia e os Sioux não permitiram que seu corpo fosse mais maculado pelo toque do homem branco. O Escritor Dee Alexander Brown, em seu livro “Enterrem Meu Coração na Curva do Rio” narra com riqueza de detalhes e depoimentos de outros chefes indígenas, parte da vida desse herói e o quase extermínio em nome do progresso, dos povos indígenas norte-americanos.
Djalma Vasconcelos