Com o advento do cinema no começo do século XX, três tipos de filmes se destacaram no agrado do público: as comédias, os filmes de terror e o farwest. Sendo que esse último foi o que fez mais sucesso, mesmo após o fim dos filmes mudos e com a chegada das cores. No rastro da fama de alguns astros de filmes B, as editoras dos Estados Unidos, que detinham direitos sobre certos desenhistas e roteiristas, que produziam tiras diárias para jornais, com personagens cômicos ou não, viram a mina de ouro que tinham a sua disposição e investiram pesado, afim de tornar os astros do cinema em heróis da vida real. Vale ressaltar que os Estados Unidos começavam a receber levas de imigrantes e a se tornar referência mundial como terra de liberdade e de oportunidade.
O cinema, que tinha estabelecido sua indústria em Los Angeles, exportava esses filmes com as bênçãos do governo, que precisava expandir seu domínio além do seu país e se contrapor aos ingleses que ainda dominavam o mundo. A conquista do oeste no século XIX e espetáculos circenses como os de Búfalo Bill, e Ringling Brothers, fizeram grande sucesso na Europa e disseminaram o mito do herói da fronteira. Nomes como Tom Mix -1880-1940-, Buck Jones -1891-1942-, Gene Autry – 1907-1998-, Willian Boyd* - 1895-1972, Rocky Lane,- 1909-1973-, Roy Rogers,-1911-1998, Tim Holt, -1919-1973-, Rex Allen – 1920-1999-, e Tex Ritter, -1905-1973-, entre outros, viraram heróis dos quadrinhos (Comics) em todo mundo e ajudaram a propagar a cultura norte-americana country.
O público do mundo inteiro adorou os novos heróis, de integridade, bravura e beleza e que sempre no final, deixava a mocinha suspirando e ia embora em busca de novas aventuras, sob um luar ou sol , sempre montado em seu cavalo branco e que atendia ao seu assobio. Esses filmes baratos e de curta duração fizeram sucesso dos anos 20 a até a metade dos anos 50 e contribuíram para o fortalecimento das histórias em quadrinhos nessa mesma época, chamada de anos de ouro dos Comics. Tinham heróis que se destacavam apenas pela coragem e destemor, como Tom Mix, Bucky Jones, Rocky Lane, Tim Holt, mas também tinham os que eram cantores como Gene Autry, Roy Rogers e Tex Ritter e a principio miravam como público alvo o sexo feminino.
Devido a esses cowboys, foram lançadas revistas sem tanta violência e com histórias de amor. Uma dessas revistas teve o nome no Brasil de ¨Cowboy Romântico” e foi lançada pela EBAL nos anos 50. A maioria dos filmes de ação desses personagens, tinha um coadjuvante ou amigo, que sempre era uma espécie de palhaço e muitos deles se destacaram e tiveram suas próprias histórias. Esses personagens terão artigo especialmente dedicado à eles nas próximas postagens.
No Brasil a palavra Gibi virou sinônimo de história em quadrinhos, devido ao fato de na segunda metade dos anos 30, a Rio Gráfica Editora (Hoje Editora Globo), ter lançado a revista Gibi Mensal, com histórias em quase sua totalidade de farwest. Como os Diários Associados, seu maior concorrente, tinha editado a revista O GURI, derivada de uma expressão gaúcha, a saída foi inventar um título parecido, pois desde 1930, os Diários Associados tinham patenteado o nome. A revista GIBI, a principio seria bimestral, mas com o sucesso de vendas tornou-se mensal. O nome foi bolado segundo alguns pesquisadores, mantendo o G de guri e adicionando o I no lugar do U, seguido da sílaba BI, já que era pra ser bimestral, mas na antiga Rio Gráfica, diziam que o nome é uma junção de G de Globo, com o I de “infantil” seguido do prefixo Bi.
Havia uma repressão por parte dos pais em permitir que seus filhos lessem HQs e como esse nome era quase desconhecido, a palavra GIBI, foi inserida na língua portuguesa virando sinónimo dessa arte. Muitos heróis de farwest, também tiveram identidades secretas, sendo o mais famoso, The Lone Ranger, conhecido com Zorro no Brasil e em alguns países. Tim Holt, que era bastante conhecido em filmes, devido seu sucesso nas telas teve nos quadrinhos a identidade secreta de Red Mask (máscara Vermelha), Dr. Robledo, era o alter ego do Cavaleiro Negro. Esses heróis mascarados terão um artigo dedicado à eles brevemente. Muitos desses personagens reais do cinema, que viraram mitos das HQs, foram tão aceitos pelo público que mantiveram seus papeis para o resto da vida, como Roy Rogers e *Willian Boyd, que incorporou um personagem do velho oeste chamado Hopalong Cassidy, e nunca conseguiu se livrar do personagem fictício. Com o tempo, o mercado mudou, pois se antes eram as editoras que corriam atrás dos astros do cinema, hoje é o cinema que corre atrás dos heróis dos gibis.
Djalma Vasconcelos
