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FORAS DA LEI DO VELHO OESTE QUE FORAM PARA OS GIBIS

FORAS DA LEI DO VELHO OESTE QUE FORAM PARA OS GIBIS

Até o final dos anos 50, os gibis vendiam tudo que produziam de heróis do chamado faroeste, com a ajuda de filmes e séries de Hollywood. O personagem principal era o mocinho bonitão e rápido no gatilho. Muitos desses heróis foram inspirados em personagens da vida real e que na realidade eram muito diferentes do que o cinema e os comics idealizaram. Nesse artigo em duas partes, vamos falar de quatro foras da lei que viraram lendas e serviram como base para criação de alguns mocinhos. Não queremos aqui narrar biografias desses marginais, pois a vida de cada um é facilmente encontrada em sites verdadeiros ou não na internet. Vamos comentar aspectos históricos que levaram esses personagens a ficarem famosos através dos crimes.

JOAQUIM MURIETA. Nascido em Sonora-México em 1829 e morto sem comprovação em Paso Panoche- Califórnia em 1853. Para uns um patriota mexicano, uma espécie de Robin Hood, que foi levado pelas circunstâncias a revoltar-se contra a dominação norte-americana desde a guerra de 1836, pelo domínio do Texas, na guerra provocada pelos Estados Unidos em 1847, que culminou com a derrota do México, que teve que entregar metade do seu território aos americanos e iniciar um processo de subordinação de povos latinos que dura até hoje. Para outros um bandido, um assaltante sem piedade. Murieta queria apenas trabalhar e produzir nas terras californianas, junto com sua mulher, mas com a corrida do ouro em 1849, a Califórnia se encheu de Yankees que mostraram ter forte racismo com os vizinhos de língua latina e com o apoio do governo federal, que criou um decreto em que obrigava os mineiros de países latinos a pagar uma taxa fiscal elevadíssima. Murieta sabendo que as terras tinham sido mexicanas e que juntamente com o Texas, Novo México e Arizona passaram a ser norte-americanas, revoltou-se e tendo ainda o agravante de sua esposa ter sido estuprada e assassinada por mineiros, tornou-se chefe de um bando que ficou conhecido como “Los cinco Joaquines”, pois seus principais componentes se chamavam Joaquim. Eles passaram a assaltar bancos e cometer assassinatos de mineradores, comerciantes, fazendeiros, sendo que em um só assalto eles levaram mais de $ 100.000,00, que para a época era uma enorme fortuna. Durante três anos os Joaquines, atormentaram a vida dos californianos norte-americanos. Com a fama, veio a perseguição e o governador da Califórnia criou os Rangers, que além de ganharem bem, ainda tinha a motivação de $ 5.000,00 pela captura de Murieta. Em junho de 1853, os Rangers encontraram um bando de mexicanos e entraram em confronto com eles em Paso Panoche. Desse combate, um Ranger saiu ferido e dois mexicanos foram mortos. Um deles, os americanos afirmou ser Joaquim Murieta. Para provar ser ele e receber a recompensa eles cortaram a cabeça do que afirmavam ser Murieta e a conservaram dentro de um recipiente de vidro. A recompensa foi paga, mas houve muitas dúvidas a respeito da cabeça ser do bandido mexicano. Murieta, meses depois foi visto muitas vezes em vários lugares da Califórnia. Seu corpo nunca foi encontrado e a cabeça não era a dele como foi provado depois. Há uma lenda que ele nasceu no Chile e foi para o México ainda criança, mas não passa de lenda, mas talvez por isso, em 1968 o poeta Pablo Neruda tenha escrito sua única peça teatral em homenagem a esse bravo. Essa lenda da Califórnia inspirou o escritor Johnston MacCulley na criação do seu imortal personagem Zorro em 1919.

BILLY THE KID – Pseudônimo de William Henry McCarthy Jr, que anos depois foi acrescido o sobrenome Bonney, nasceu em Nova Iorque em 1859. Tendo ficado órfão de pai aos dois anos, migrou com sua mãe e padrasto para o oeste onde como uma espécie de retirante nordestino, morou em várias cidades até se fixarem no Novo México. Alguns historiadores dizem que ele cometeu o primeiro furto aos oito anos, mas essa afirmação não tem base histórica. O certo é que praticou seu primeiro assassinato aos 12 anos, para defender sua mãe de um desordeiro. Depois desse dia ele nunca mais a viu, pois teve que se esconder a fim de fugir da caça que lhe fizeram. Esse fato, talvez tenha contribuído para que ele tenha caído no mundo do crime, pois tinha por sua mãe um respeito e ela exercia forte liderança sobre ele. Com um metro e setenta e três centímetros de altura, mesmo assim foi considerado baixo para ser vaqueiro em fazendas da região e em vez de ser cowboy passou a ser ladrão de cavalos. Tendo se juntado a um bando de marginais, atormentou a vida dos rancheiros e matando sem piedade que atravessasse seu caminho. Sua fama chegou a Washington e o governo federal ofereceu $ 500,00 a quem prendesse o garoto Billy. O ano era 1878 e chamou a atenção do xerife Pat Garrett, que foi seu maior perseguidor. Vale destacar que Billy The Kid era exímio atirador e manejava um punhal como poucos, sendo por isso, cobiçado por pistoleiros e caçadores de recompensas.

Pat Garrett conhecia Billy e durante algum tempo foram amigos, o que impediu algumas vezes de perseguir o pistoleiro. Em maio de 1879, Billy foi a um Saloon e já estava de saída quando foi abordado pelo pistoleiro e valentão Joe Grant que lhe disse: “O tempo que levo para matar é menor do que você leva para beber um Uísque”. Foram suas últimas palavras, pois caiu com um tiro na testa disparado por Billy. A perseguição que Pat Garrett moveu contra seu antigo “amigo” foi intensa, sendo que Billy sempre escapava e aparecia depois cometendo assaltos em outros lugares do Novo México. No dia 14 de junho de 1881 Garrett armou uma emboscada e segundo ele próprio matou o marginal. O que se sabe é que a fama de Pat Garret se espalhou por todo país, pois ele escreveu um livro que serviu como motivação para a criação do mito dos heróis do velho oeste.

A verdade é que Garrett era analfabeto e o livro The Authentic Life of Billy The Kid, não foi escrito por ele e sim por Marshall Ashmun Upson, jornalista e escritor que Garrett empregou como escrivão e auxiliar na delegacia onde era xerife. O marketing em torno do xerife o tornou um mito e símbolo do mocinho que defende a lei e terror dos bandidos. A morte de Billy The Kid é um dos maiores mistérios do velho oeste, pois existe um museu em Hico, Texas, dedicado a Ollie “Brushy Bill” Roberts, que sempre afirmou ser o verdadeiro fora da lei. O Próprio museu afirma que Pat Garrett atirou em outra pessoa e encobriu o fato, com o apoio do seu auxiliar. Billy The Kid teria morrido 70 anos depois, tendo na época, fugido para o Texas, onde viveu até 1950. A história dessa lenda serviu de base para criação de vários heróis dos quadrinhos e até mesmo do cinema. No Brasil, as Editora La Selva e Rio Gráfica Editora (Globo), publicaram as histórias do personagem com diferentes nomes. Bill Kid e Billy Kid. A La Selva a partir de 1952 publicou 152 edições de Bill Kid através do selo Cômico Colegial. O personagem também serviu de inspiração para a criação por aqui, do sofrido e perseguido Kid Colt.

O próximo personagem que vamos comentar faz parte daqueles que forjaram o mito do mocinho do velho oeste, mas que teve a vida marcada por duas fases. Uma ao lado da lei, outra à margem dela.

Wyatt Earp- Nascido Wyatt Berry Stapp Earp em 1848 em Illinois e falecido em 1929, provavelmente no Colorado, teve seu destino marcado por fatores sociais e políticos que formaram a nação norte-americana no final do século XIX, mas que também influenciaram sua mudança contra o status quo da época. Aos dezesseis anos, seus pais se mudaram para a Califórnia, onde trabalhou na estrada de ferro Union Pacific por algum tempo, voltando depois para o leste onde casou e enviuvou. Ele foi um verdadeiro andarilho pelas pradarias do oeste, tendo se juntado aos seus irmãos, Virgil, Morgan, James e Warren, caçando búfalos ou como condutor de diligencias. Tinha ainda um meio irmão Newton que levou uma vida menos perigosa e viveu até os noventa e um anos. A revolta dos irmãos Earp contra o sistema judiciário da época, os levou a deixar as profissões de garimpo de ouro, dono de cassinos, e comerciantes, para serem policiais. Wyatt foi por cinco anos, auxiliar do seu irmão Virgil, xerife de Tombstone no Arizona e em Wichita e Dodge City no Kansas. Durante esse período, ficou célebre a sua frase “Eu sou a Lei e isso acaba aqui”. Coincidência ou não, o fato é que o ano de 1881, um dos mais violentos do Arizona, houve apenas três assassinatos em Tombstone.

A fama de durão tinha se espalhado por todo oeste. Seus irmãos, Virgil e Morgan, foram delegados e xerifes em outras localidades. Como sempre acontece em qualquer atividade, o sucesso e fama atraem cobiça, inveja e inimizade. Os irmãos Earp, foram contestados e perseguidos muitas vezes, pelos modos de lidar com desafetos, contrariando com isso autoridades do judiciário que não gostavam dos seus métodos. O caso mais famoso e que passou para a história, através de livros, filmes e revistas em quadrinhos foi o duelo no Ok Corral. Em 1881, Virgil Earp então delegado de Tombstone, proibiu o uso de armas na cidade. Os irmãos Clanton, Ike e Billy não quiseram obedecer à ordem, pois já viviam as turras com o delegado e seus irmãos por acusa-los de serem ladrões de gado no México para venderem no Arizona. Não vamos narrar aqui o duelo, pois ele está amplamente disponibilizado em sites e artigos na internet, porém, vamos comentar que depois que Virgil, Wyatt, Morgan com a ajuda de Doc Holliday, outra lenda do oeste, mataram dois dos irmãos Clanton, o judiciário ficou contra eles, que quase foram a júri popular. Dois meses depois, Virgil sofreu uma tentativa de assassinato e levou um tiro que o deixou aleijado para sempre.

Em março de 1882, Morgan foi assassinado enquanto jogava bilhar na presença de Wyatt. O assassino conseguiu fugir e mais uma vez a justiça foi omissa quanto à captura do marginal, fazendo com que Wyatt largasse o cargo de subdelegado e saísse à caça dos mandantes do crime, com a ajuda de um bando leal a ele. Nessa caçada vários pistoleiros foram mortos, com destaque para Johnny Ringo, antigo desafeto de Doc Holliday. Apesar da fama, o duelo do Ok Corral, não teve nada daquilo que o cinema e os quadrinhos relataram. Não foi um duelo no sentido literal da palavra e sim um tiroteio fruto de uma rixa. O fato não se deu no Corral e sim próximo dele. O tiroteio durou pouco mais de 30 segundos e os inimigos estavam no máximo a dois metros um do outro. A participação de Doc Holliday foi fundamental para que os irmãos Earp saíssem vitoriosos, se é que podemos chamar de vitória. Depois disso, para fugir da justiça do Arizona, Wyatt foi com a esposa para o Colorado, onde prospectou ouro e vagaram por vários estados, inclusive tendo ido para o Alasca onde ganharam dinheiro com ouro. Depois já em 1906, ele descobriu ouro na Califórnia e cobre no Colorado. Em Janeiro de 1929 ele faleceu aos 80 anos. Esse personagem do velho oeste teve muitas histórias contadas nas revistas em quadrinhos.

No Brasil, a EBAL publicou algumas histórias nas revistas O Herói e Reis do Faroeste. A editora O Cruzeiro, inspirou-se no personagem e copiou as histórias, adaptando-as para um personagem chamado Tom Earp.

Djalma Vasconcelos

Nota. Algumas informações foram transcritas do livro de Stuart Lake “Wyatt Earp Frontier Marshal.

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