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ADOLFO AIZEN X ROBERTO MARINHO

ADOLFO AIZEN X ROBERTO MARINHO

A maioria dos leitores das histórias em quadrinhos desconhece que, por trás de cada personagem tem uma história sobre sua criação de sucesso ou não. Também não sabem sobre os bastidores das editoras e dos syndicates americanos que dominam e controlam esse mercado. No Brasil não foi e não é diferente. O interesse pelo lucro está acima de qualquer paixão pelos heróis dos quadrinhos. Mas toda regra tem exceção. Adolfo Aizen, judeu ucraniano -1907-1991-, e que chegou ao Brasil ainda criança e em 1922 foi morar no Rio de Janeiro é considerado o pioneiro das histórias em quadrinhos no Brasil. Tendo trabalhado no Jornal O Globo do jornalista Roberto Marinho, foi ser redator-chefe do Jornal A Nação, onde em 1933, a convite do Touring Club do Brasil, foi aos Estados Unidos onde conheceu os grandes jornais da época e o King Features Syndicate, maior distribuidor das tiras em quadrinhos e apaixonou-se por elas.

Como empreendedor que era, Aizen teve a ideia de publicar as histórias dos personagens da editora americana no Brasil. Como tinha trabalhado em O Globo, procurou o redator-chefe, Roberto Marinho e propôs-lhe sociedade no empreendimento. A resposta que recebeu, segundo seu filho Naumim Aizen foi, “Ora Aizen, isso é história pra criança,” seguido de um não interessa. Aizen lança então através do jornal A Nação, o Suplemento Juvenil, que era encarte do jornal. Esse lançamento fez tanto sucesso que as pessoas compravam o jornal e jogavam fora, a fim de ficar com a parte dos quadrinhos. O sucesso fez com que a revista fosse publicada separada do jornal e vendeu três vezes mais que o periódico.

Com o sucesso de vendas veio também a cobiça da concorrência. Roberto Marinho que também gostava dos Comics procurou Adolfo Aizen e fez uma oferta de parceria, que foi recusada. Sabe-se que Roberto Marinho disse: “Você vai se arrepender”. Em 1939, o representante no Brasil do King Features Syndicate, precisando de dinheiro, aceitou uma oferta de Roberto Marinho e tirou de Adolfo Aizen os direitos de publicação dos heróis. Os títulos Flash Gordon, Mandrake, Dick Tracy, Jim das Selvas, Tarzan, Os Sobrinhos do Capitão, Popeye, entre outros migraram para O Globo. Aizen sentiu o golpe, mas não se abalou com a rasteira que levou, porém, como a segunda guerra mundial estava começando, e sem poder importar papel, a situação pré-falimentar o levou a vender seu Suplemento Juvenil a editora A Noite, onde também foi trabalhar como diretor na revista O Lobinho, cujo título era seu.

Terminada a guerra em 1945, Adolfo Aizen faz empréstimo bancário e funda a Editora Brasil-América Ltda, a famosa EBAL, que se tornou a maior editora que HQs e livros educativos da América latina. Enquanto Roberto Marinho fazia sucesso com sua revista Gibi Mensal*, Globo Juvenil e outros títulos, a Ebal trouxe para o Brasil, personagens como, Superman, Pato Donald (sim, não foi a Abril), Mickey Mouse, Batman, Pinduca, Popeye, Roy Rogers, e principalmente, clássicos da literatura universal na revista Edição Maravilhosa. Com a fundação da Rio Gráfica Editora, Roberto Marinho se consolida no mercado, porém tem que disputar com Assis Chateaubriand, da Editora O Cruzeiro, o segundo lugar, pois a Ebal tornou-se líder dos quadrinhos por vinte anos. Enquanto Roberto Marinho sempre foi empresário liberal e que gostava de delegar sem abdicar da liderança, Adolfo Aizen, era um apaixonado pelos personagens de ficção e pela luta para que a sociedade aceitasse as histórias em quadrinhos como arte. Não permitia que certos termos fossem usados nas histórias publicadas pela EBAL, se sentisse que tinha cunho sexual ou político, se bem que nos anos 60 foi acusado pelos militares de ser de esquerda.

Foi graças a Aizen que certos personagens no Brasil têm nome totalmente diferente do original. Vamos alguns exemplos: A Namorada do Pato Donald é Dayse nos Estados Unidos, aqui ele batizou de Margarida e a Abril nada pode fazer quando ficou com o título em 1950. Lois Lane a namorada do Superman, aqui teve a influência da sua origem judaica e foi batizada de Mirian Lane. Os pais terrenos de Clark Kent, Jonathan e Martha não mudaram pois eles são judeus. Daredevil – Algo como temerário em tradução livre, teve seu nome mudado para Demolidor. Demolir quem? Há uma história que carece de ser verdadeira que o nome desse herói, foi tirado de um antigo jogador do Vasco da Gama, chamado Jorge Demolidor. A sede do Vasco é vizinha onde existiu a EBAL. O primeiro The Flash, da Sociedade da Justiça, aqui teve o nome de Joel Ciclone e ainda permanece, mesmo depois de Crise nas Infinitas Terras.

A “amizade entre Adolfo Aizen e Roberto Marinho” pode ser comparada numa escala maior a de Silvio Santos e Edir Macedo, onde só os interesses pesam. No entanto, Adolfo Aizen foi um sonhador e de um desprendimento notável no campo empresarial. A EBAL hoje é só lembrança, tendo falido na metade dos anos 90, cheia de dívidas após a morte do seu fundador. Naumin Aizen, filho de Adolfo faleceu em 2012, num abrigo para indigentes, mantido pela comunidade judaica. Nada precisa ser dito sobre o sucesso de Roberto Marinho e seus sucessores.

Djalma Vasconcelos

*- Foi evitado falar o mínimo possível a palavra GIBI, pois Adolfo Aizen detestava esse nome.

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