Criada por Marjorie Henderson Bueel (Marge) (1904/1993), em 1935 para substituir o personagem Pinduca (Henry), que migrou para outro Sindycate, para ser publicada como charge no jornal The Saturday Evening Post, Luluzinha (Little Lulu) foi a primeira heroína dos quadrinhos a se rebelar contra o machismo predominante na sociedade. Talvez pelo fato de ter sido criada por uma mulher, que colocou nela o que sentia na vida real em forma de molecagem de criança, mas que sempre teve um cunho de vingança feminina, essa personagem ficou marcada na história dos comics.
Como sempre fazemos, nossa intenção não é relatar a biografia da personagem, pois os sites da internet estão cheios de dados sobre a criação dela, mas não podemos deixar de falar sobre as facetas da sua personalidade sem falar um pouco da sua história. A maioria dos personagens dos comics veio das tiras diárias dos jornais. Luluzinha foi a exceção e veio de charges de no máximo dois quadros. O sucesso dessa menina traquina com cabelos cacheados foi tanto que virou livro e vendeu produtos. Em 1945, conhecida até fora dos Estados Unidos, devido ter sido garota propaganda de uma multinacional ligada a produtos de higiene, teve revista própria lançada pela Dell Comics, ao mesmo tempo em que era lançado seu amiguinho Bolinha (Tubby), único personagem da turma da Lulu criado por Marge. Os outros vieram anos depois pelas mãos do roteirista John Stanley a partir de 1945, mas sempre com a aprovação da criadora.
Apesar de ter sido criada como uma menina de uns 8 a 10 anos, dotada de uma “inocente inteligência”, teimosa, mas de bom coração e que se mete em várias enrascadas contra Bolinha e seu clube, tem a feminilidade e doçura que somente as mulheres têm. Como toda menina, tem um diário (Lullu’s Diary) onde conta seus “segredos” sobre os meninos e a disputa com Glória pelo coração de Plínio Raposo, o garoto rico e bonitão das histórias. Com sua persistência, na maioria das vezes vence as disputas com Bolinha e sua turma e até mesmo os ajuda a vencer a “turma da zona norte, “grupo de meninos parrudos que mete medo em Bolinha e seus amigos”. A frase na porta do clube do Bolinha dizendo que “menina não entra,”já mostra de maneira hilária o sentimento de machismo na primeira metade do século XX.
Luluzinha não ficava muito tempo zangada nem tinha força maior que os meninos. Suas vitórias sobre eles eram consequência de atos de inteligência e até mesmo de nobreza, pois ela logo estava tentando ser amiga deles. Sua imaginação fértil a levava sonhar histórias, para contar para Alvinho, um garotinho rebelde, que de vez em quando ela ia tomar conta dele. Dessas histórias, surgiram outros personagens que ficaram famosos como as Bruxas Alceia e sua sobrinha Memeia.
O êxito dessa menina vestida de vermelho de nariz afilado, que não se conforma com o machismo do seu pai e dos amiguinhos, foi tanto que suas histórias até o final da década de 40 tinham sido traduzidas para mais de dez idiomas, inclusive o português. No Brasil as histórias de Luluzinha e sua turma forma publicadas pela Editora O Cruzeiro de 1955 a 1972. Depois a Editora Abril deteve os direitos de publicação de 1973 a 1996. Nos Estados Unidos a revista foi cancelada na metade dos anos 60, mas entre os brasileiros ela fez tanto sucesso que na época do movimento musical Jovem Guarda, Roberto e Erasmo Carlos fizeram uma música que ainda hoje é hit. Chama-se festa do Bolinha.
Numa época onde todos os heróis eram em sua maioria masculinos, surge uma menina se impondo no meio machista e adquirindo fama mundial. Ela fez escola e anos depois no Brasil, surgia uma certa menina gorducha e dentuça, se impondo no mundo contra planos infalíveis para vence-la, não pela inteligência, mas pela força de uma boneca. Mas tudo começou com a Little Lulu. Um exemplar da revista dela dos anos 40 nos Estados Unidos está acima de $ 700,00.
Djalma Vasconcelos
